Dr. Henrique Soares CRO-SP 174.034
Causas, Riscos e Manejo da Dimensão Vertical de Oclusão Aumentada
A dimensão vertical de oclusão (DVO) é um parâmetro essencial para o equilíbrio funcional, estético e biomecânico do sistema estomatognático. Alterações nesse espaço, especialmente por aumentos inadequados relacionados a próteses do tipo protocolo, representam um dos maiores desafios na reabilitação oral contemporânea. A abordagem deste tema exige clareza técnica, fundamentação científica e foco na saúde e qualidade de vida do paciente.
O Papel da Dimensão Vertical na Reabilitação Oral
A DVO consiste na medida vertical entre mandíbula e maxila quando os dentes estão em intercuspidação máxima. Para um prognóstico positivo, o valor deve ser avaliado de forma individualizada, com métodos fonéticos, métricos (ex: compasso de Willis), estéticos e deglutição, muitas vezes combinados para maior precisão.
A alteração indesejada, seja por aumento ou diminuição, compromete não só a eficiência mastigatória, mas também afeta a estética facial, a fala e o conforto articular, podendo desencadear disfunções em diferentes estruturas do sistema estomatognático.
Riscos de uma Dimensão Vertical Aumentada
Mudanças abruptas ou excessivas na DVO, como próteses altas, elevam significativamente as forças de mordida, promovendo apertamento dental, fadiga muscular, sensibilidade articular, e agravando o risco de fraturas em porcelana ou restaurações. Destacam-se os seguintes impactos:
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Dor craniomandibular e articular: Uma DVO aumentada sobrecarrega a articulação temporomandibular (ATM) e músculos mastigatórios, favorecendo sintomas como dor, estalos, crepitações, cefaleia e até irradiação para região cervical.
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Comprometimento funcional: Dificuldades na mastigação, dicção e fala são comuns, especialmente com próteses mal adaptadas, exigindo ajustes precisos e acompanhamento multidisciplinar.
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Alterações musculares: A sobrecarga pode gerar hiperatividade muscular, hipertrofia do masseter, deslocamentos do disco articular e fadiga persistente.
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Prejuízo estético: Alterações faciais e postura desfavorável, comprometendo a autoestima e aumentando o risco de isolamento social.
Protocolos Diagnósticos e Métodos de Avaliação
Uma avaliação minuciosa é imprescindível para evitar complicações. O processo exige:
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Medidas fisiológicas e fonéticas (teste do “S”): Distância interincisal de 1–2 mm durante emissão de sons sibilantes ajuda na delimitação personalizada da DVO, promovendo adaptação funcional.
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Exames complementares: Radiografia, fotografias e análise de modelos auxiliam a identificar perdas, desgastes e eventuais desequilíbrios. O uso de articuladores semi-ajustáveis permite simulação dos movimentos mandibulares e reprodução fiel das necessidades do paciente.
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Testes funcionais e próteses provisórias: Antes de qualquer intervenção definitiva, realiza-se fase provisória para mensurar resposta articular, muscular e estética.
Manejo Terapêutico: Ajuste Gradual e Técnicas Modernas
Modificações de DVO, sobretudo quando amplas, devem ser introduzidas de forma gradual. Estudos clínicos documentam adaptações satisfatórias quando o aumento é realizado por etapas e monitoramento rigoroso. Recomenda-se:
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Jigs estéticos e placas interoclusais: Dispositivos auxiliares para simulação do aumento, promovendo controle neuromuscular e adaptação progressiva.
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Próteses provisórias ajustadas: Servem como treino fisiológico, minimizando riscos de desadaptação e permitindo ajustes individualizados conforme o feedback do paciente.
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Acompanhamento interdisciplinar: O envolvimento de fonoaudiólogos e fisioterapeutas potencializa resultados funcionais, principalmente em casos com comprometimento de fala e mastigação.
Parâmetros Ideais e Critérios Individualizados
Os intervalos de referência para próteses do tipo protocolo costumam variar entre 2 e 4 mm de espaço funcional livre, mas o valor deve ser ajustado conforme as características anatômicas, biomecânicas e necessidades funcionais de cada paciente. A personalização é fundamental, pois variações podem existir mesmo dentro da normalidade clínica.
Evidências Científicas e Estratégias Preventivas
A literatura aponta controvérsia quanto à real incidência de complicações graves decorrentes de aumento de DVO, desde que o ajuste seja biomecanicamente estável e oclusalmente equilibrado. Porém, sintomas transitórios, como fadiga muscular e sensibilidade, são frequentes durante as fases iniciais de adaptação. O insucesso está frequentemente relacionado à ausência de planejamento rigoroso, técnicas inadequadas ou falta de acompanhamento pós-reabilitação.
Manutenção preventiva com revisões periódicas semestrais, ajustes oclusais seletivos e orientação sobre higiene bucal são essenciais para preservar o resultado, reduzir sobrecargas e evitar fraturas ou novos desconfortos.
Orientações Práticas ao Paciente
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Priorize higienização rigorosa diária e evite alimentos demasiadamente duros.
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Use placas noturnas se houver diagnóstico de bruxismo.
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Compareça a revisões semestrais e relate imediatamente sintomas de dor ou desconforto.
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Busque equipes multidisciplinares para adaptar fala e mastigação nos casos de alterações significativas.
Conclusão
A dimensão vertical de oclusão aumentada é uma realidade clínica que exige diagnóstico preciso, manejo gradual e acompanhamento qualificado para evitar complicações. O profissional deve fundamentar suas decisões em evidências científicas, protocolos modernos e personalização, garantindo o equilíbrio funcional, estética facial e qualidade de vida ao paciente. A abordagem preventiva e o controle rigoroso promovem longevidade dos resultados e restauram plena saúde oral.
A reabilitação oral baseada em ciência, técnica precisa e acompanhamento profissional é o caminho para evitar complicações graves relacionadas à dimensão vertical aumentada — promovendo sucesso clínico e qualidade de vida ao paciente.
















